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Ainda há certa confusão para entender o que será a política econômica no próximo ano. Alguns jornais falam em ajuste fiscal, parada da economia e outros pontos nebulosos.
A rigor, os principais pontos a se considerar são os seguintes.
Do ponto de vista fiscal, há dois anos Lula vem antecipando aumentos de funcionalismo e a recomposição de cargos em Ministérios justamente para liberar Dilma de pressões no seu primeiro ano de governo.
A versão de que o primeiro ano de governo Dilma implicaria em um aperto fiscal decorreu da má compreensão de alguns jornais sobre o que de fato está sendo planejado.
Desde o início do ano a equipe econômica trabalha com um cenário claro: com crescimento econômico e sem pressões adicionais na folha será possível retornar aos níveis de superávit primário pré-crise sem nenhum aperto adicional. Apenas isso.
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O desafio sério será nas contas externas. O rombo tem aumentado sistematicamente devido ao câmbio apreciado. Na área econômica sabe-se que em algum momento do futuro o mercado ajustará o preço do dólar. Haverá uma desvalorização.
A lógica do Ministério da Fazenda reside na composição das reservas cambiais.
Sempre que ocorria um problema nas contas externas, havia dois efeitos deletérios. O primeiro, a falta de dólares para suprir o mercado. O segundo, o estouro nas contas públicas. Com a escassez de dólares, emitiam-se títulos indexados ao câmbio. Desvalorizando o câmbio, aumentava a dívida pública.
Com as reservas cambiais, ocorrerá o inverso. Desvalorizando o real (valorizando consequentemente o dólar), as contas públicas terão enorme impacto positivo. E haverá dólares para amenizar o tamanho do tranco da desvalorização.
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De qualquer modo, uma desvalorização terá impacto inicial sobre os índices de preços, obrigando a uma política de juros mais conservadora, até os efeitos inflacionários diminuírem. Em 2003, três meses de juros altos teriam resolvido. Optou-se por um conservadorismo excessivo que abortou a recuperação da economia.
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No próximo ano, o desafio será monitorar os juros para amortecer os impactos inflacionários da desvalorização, mas parar de utilizar o câmbio como elemento anti-inflacionário. Pela primeira vez, desde os desastres do segundo semestre de 1994, o BC terá que trabalhar com olho em outros elementos macroeconômicos: não apenas inflação, mas também PIB e nível de emprego.
A rigor, o grande desafio do primeiro ano do governo Dilma será a definição do novo papel do BC, que não poderá ser nem agressivo, a ponto de incomodar o mercado, nem passivo, a ponto de abortar o crescimento.
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Haverá preocupação com a parte fiscal, sim. Mas o ritmo e intensidade do ajuste não será dado pelo ex-Ministro Antonio Pallocci. Assim como José Serra, Dilma Rousseff tem uma formação econômica que poderia ser taxada de neodesenvolvimentista – isto é, buscar todas as formas de estimular o desenvolvimento, mas sem imprudências fiscais, como as dos anos 60 ou do Cruzado.
Luis Nassif é jornalista
Fonte: Blog Bacaroço
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